out 4 2011

A Floresta Amazônica e a presença do Homem


Ao realizar a fotossíntese pela folhagem das plantas, sob a ação da energia da radiação solar, forma-se o hidrato de carbono, seja o açúcar e a celulose, pela combinação do gás carbônico com a água da atmosfera. Esse processo libera o oxigênio para a atmosfera. Assim, formou-se, através de milhões de anos o elevado teor de oxigênio na composição da atmosfera da Terra, cerca de 21%. O nitrogênio, um gás inerte, ocupa quase todo o volume da atmosfera, em torno de 78% e o gás carbônico, apenas 0,03 %.

O oxigênio presente na atmosfera terrestre foi originado pela fotossíntese realizada pelos vegetais da superfície. Os organismos, plantas e animais, presentes nas florestas da Terra não mais contribuem para alterar a composição da atmosfera. Quando vivas, as plantas realizam a fotossíntese, produzindo e liberando o oxigênio, ao mesmo tempo em que formam a matéria orgânica e consomem o gás carbônico. Quando morrem e se decompõem, fazem o contrário, consomem o oxigênio, numa combustão lenta e lançam em seu lugar gás carbônico na atmosfera. Por isso os teores de gás carbônico e de oxigênio na atmosfera mantêm-se constantes.

Toda floresta adulta, em clímax, apresenta sobre o solo uma camada de matéria orgânica oriunda da folhagem senescente que cai da copa das arvores e que apresenta na parte inferior em contato com o solo uma camada em decomposição. É a serapilheira.

Essa serapilheira, ao mesmo tempo que recebe material na superfície, vai se decompondo e desaparecendo na parte inferior. Dessa forma, a serapilheira fica sempre com a mesma altura. Se não houvesse essa decomposição, a camada de serapilheira iria aumentando de espessura continuamente e chegaria a muitos metros da altura. O que nunca acontece.

A floresta virgem ao mesmo tempo que produz oxigênio pela fotossíntese, produz também o gás carbônico, pela de- composição da matéria orgânica quando morrem. Assim, não alteram a oxigenação da atmosfera.

Uma vegetação natural ocorre também em superfícies aquosas como de lagos e oceanos. São principalmente as algas, muito abundantes, que fazem a fotossíntese. Absorvem o gás carbônico (CO ) e liberam o oxigênio. Mas, as algas também respiram e se decompõem quando morrem, produzindo o gás carbônico na mesma proporção que produziu o oxigênio.

Se a Floresta Amazônica fosse substituída por outra cobertura vegetal, como a pastagem ou uma cultura agrícola arbustiva ou arbórea, o efeito na composição da atmosfera terrestre seria desprezível, principalmente se comparada com o efeito da abundante vegetação dos oceanos, que ocupa quase toda a superfície do planeta. Os teores de oxigênio e de gás carbônico da atmosfera sobre os oceanos e sobre os continentes são iguais e continuam sendo sempre os mesmos.

Ocupação humana da floresta

A floresta natural na ausência do homem civilizado mantém-se virgem em equilíbrio, com todos os seus componentes inclusive o homem em estado selvagem. Quando o homem civilizado vem e ocupa uma região florestada altera em algumas dezenas de anos, seu equilíbrio e transforma o ambiente numa condição favorável à sua sociedade. A floresta não será mais virgem, mas uma floresta antrópica, como aconteceu com a Mata Atlântica brasileira. São também florestas antrópicas as coberturas atuais da Europa, dos Estados Unidos, da China, do Japão etc.

No início do século vinte, quase todo o território do Esta- do de São Paulo estava coberto pela Mata Atlântica, cerca de 90%, Com o decorrer dos anos a cobertura florestal foi sendo reduzida sistematicamente. Por volta de 1950, na metade do século vinte, já tinha caído para menos de 15%. Com essa enorme redução na área florestada não se verificou alteração sensível nas suas condições climáticas. Elas continuaram favoráveis à vida humana e ao cultivo das mesmas culturas, como anteriormente.

O papel da floresta no clima

A floresta não tem papel significativo na temperatura da atmosfera terrestre. Certamente, um terreno de solo desnudo, desprotegido, pode apresentar grande variação de temperaturas no seu ambiente microclimático. Mas é um efeito local e não climático. Os fatores que afetam decisivamente a temperatura da superfície terrestre e da atmosfera são a radiação solar e as suas condições geográficas como: latitude, altitude, continentalidade, as massas de ar etc.

A floresta não influi na distribuição da precipitação pluvial da região. O regime pluvial é um efeito das condições geográficas e topográficas da região e não da cobertura do terreno. As grandes precipitações da região amazônica são efeito da sua posição geográfica. A foz do Rio Amazonas fica a oeste da região equatorial quente do Oceano Atlântico e pela circulação geral da atmosfera essa faixa latitudinal é caracterizada pelos ventos alísios, que sopram de leste. As- sim, depois de passar sobre as águas quentes equatoriais do oceano Atlântico, a atmosfera aquece-se e umedece-se consideravelmente. Dessa forma, penetra pela foz e vale planos do Rio Amazonas, subindo seus afluentes, seguindo o curso do rio até as encostas da Cordilheira dos Andes. Nesse percurso as altitudes vão se elevando, as temperaturas caindo, a umidade atmosférica se condensando e as nuvens formando-se e precipitando-se em forma de chuva, independentemente da cobertura do solo, que pode ser de floresta ou não.

A floresta que cobre o solo é efeito das condições favoráveis do terreno e do clima. Se houver deficiência de nutrientes no solo, como carência de potássio, de fósforo, de cálcio, de zinco, etc. a vegetação natural será o cerrado. Se houver falta de chuva e carência de água, a vegetação natural será a caatinga.

Na grande região central brasileira, os solos são oriundos de rocha sedimentar muito velha, sujeita há milhões de anos à lavagem pluvial. Foi muito lixiviada e empobrecida. Os solos resultantes são igualmente muito pobres. Não suportam uma floresta ou uma cultura agrícola. Sua vegetação natural será raquitizada. É o cerrado. Quando seu solo empobrecido for convenientemente fertilizado pela adubação pode se tornar uma terra de cultura e ser utilizada sem problema para culturas agrícolas, pastagens e mesmo para reflorescimento.

No Nordeste brasileiro, onde as chuvas são escassas e irregulares, o balanço hídrico climático pode acusar severas deficiências de água no solo e a vegetação natural não pode ser uma floresta natural, mas sim a vegetação raquitizada. É a conhecida caatinga.

Reconhecimento da Amazônia

A Amazônia é conhecida pelas margens dos rios, por onde circulam as embarcações. As margens, quando arenosas e muito lavadas pelas enchentes, apresentam terras excessiva- mente pobres em nutrientes e imprestáveis para a agricultura. Isso dá idéia de que os solos amazônicos em geral são também demasiado pobres e impróprios para a agricultura. Hoje, com novas rodovias, passando pelas terras altas e bem drena- das dos interflúvios, verifica-se que muitos solos são bastante férteis, cobertos de florestas vigorosas, indicativas de solo e clima excelentes para agricultura e pecuária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma floresta adulta, vigorosa, em estado de clímax, não é fonte de oxigênio para a atmosfera. Todo o oxigênio que produz pela fotossíntese é consumido pela respiração e pela vegetação senescente em decomposição. Mesmo que produzisse um saldo de oxigênio, ele seria in- significante em face do produzido pela imensa vegetação da superfície oceânica, que cobre mais de dois terços da superfície do globo terrestre.

A floresta amazônica é diminuta comparada à enorme cobertura oceânica do Globo, e praticamente não influi no clima geral da Terra.

A cobertura vegetal natural de um solo é conseqüência das condições do seu meio. Se forem todas favoráveis, a cobertura natural será a floresta. Se um fator não for favorável, não ocorrerá a floresta. Poderá ser o cerrado, o campo limpo, a caatinga, o solo nu etc.

Se houver influência da ocupação humana civilizada, a cobertura do solo não será a natural. Será uma cobertura antrópica, que poderá ter áreas florestadas ou não, segundo as conveniências do homem.

O destino de uma Floresta Amazônica antrópica será o mesmo da Mata Atlântica atual. Ficará equilibrada, e em harmonia com a presença do homem. Quem viver, verá!